"Hoje, o que eu quero, de verdade, é que aconteça para todas as pessoas que passam por isso o que aconteceu com a gente." Esse é o sentimento de Rosemary Castro, mulher de Vamberto Luiz de Castro, de 64 anos.
O funcionário público aposentado é o paciente que tinha linfoma em fase terminal e agora, segundo os médicos, está "virtualmente" livre da doença. Ele teve alta neste sábado (12), após apresentar melhoras com um tratamento inédito na América Latina, baseado em uma técnica de terapia genética descoberta no exterior e conhecida como CART-Cell.
Em entrevista ao G1, Rosemary, a esposa do paciente, contou: "Deram alta mais rápido do que a gente esperava e ainda conseguimos um voo para mais cedo". Segundo ela, o marido se recupera em casa e "está muito bem".
Ela, o marido e o filho chegaram a Belo Horizonte neste domingo (13). O paciente passou 40 dias no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (SP). O Fantástico acompanhou a saída do casal do hospital.
Antes de se submeter ao tratamento inédito, Vamberto tomava doses máximas de morfina diariamente e não conseguia mais andar. O tumor havia se espalhado pelos ossos.
No início de setembro, o corpo do paciente estava tomado por tumores. Na semana passada, no entanto, a maioria deles já havia desaparecido. E os que restam, segundo os médicos, sinalizam a evolução da terapia.
Como perdeu muitos quilos e ficou deitado por muitos dias, a partir de agora Vamberto terá de recuperar peso e fazer exercícios de fisioterapia, para a mobilidade voltar ao normal.
A mulher dele contou que o filho descobriu que pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) estavam trazendo para o Brasil a terapia genética descoberta no exterior.
"Era o único lugar que tinha esse tratamento. Foi tudo pelo SUS. E tivemos a sorte de ele ter todas as características para fazer o tratamento", disse Rosemary.
Muito alegre e aliviada, a mulher falou sobre a importância de o governo incentivar esse tipo de pesquisa para que mais pessoas também tenham a oportunidade de cura: "Todo mundo merece essa chance que a gente teve".
O casal tem também uma filha e um neto. E agora, com a família completa e reunida novamente em casa, Rosemary espera que a recuperação do marido seja ainda mais rápida.
Imagens de exames realizados pela equipe de médicos mostram e evolução do tratamento. Os novos exames mostraram que a maioria deles desapareceu.
Vamberto deverá ser acompanhado por cinco anos, até poder ser considerado curado da doença.
Entenda o tratamento em 7 pontos:
1- Em 9 de setembro, Vamberto foi hospitalizado; apresentava quadro de linfoma em fase terminal
2- Tratamento com base em técnica CART-Cell nunca tinha sido feito no Brasil
3- Técnica modifica células para combater tumores
4- Custo do tratamento nos EUA chega a US$ 475 mil
5- Em pouco mais de um mês paciente apresentou remissão da doença
6- Será acompanhado durante 5 anos até o diagnóstico de cura
7- Técnica foi desenvolvida no Brasil com financiamento público
Os médicos e pesquisadores do Centro de Terapia Celular (CTC-Fapesp-USP) do Hemocentro, ligado ao Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, apontam que o paciente está "virtualmente" livre da doença.
Os pesquisadores da USP – apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) – desenvolveram um procedimento próprio de aplicação da técnica CART-Cell.
O linfoma é um câncer que afeta as células do sistema linfático. Ele é uma parte importante do sistema imunológico, responsável pela defesa do nosso organismo no combate a infecções. Por causa do linfoma, essas células passam a se proliferar de forma descontrolada.
A CART-Cell é uma forma de terapia genética já utilizada nos Estados Unidos, Europa, China e Japão. O método consiste na manipulação de células do sistema imunológico para que elas possam combater as células causadoras do câncer.
No EUA, os tratamentos comerciais já receberam aprovação e podem custar perto de US$ 500 mil.
Perspectivas para o SUS
Dimas Tadeu Covas, que coordena o Centro de Terapia Celular do HC de Ribeirão Preto, disse que o procedimento poderá ser reproduzido em outros centros de excelência do país, mas não dá datas. Isso porque, segundo ele, depende de laboratórios controlados com infraestrutura adequada.
"Devido à complexidade do tratamento, ele também só pode ser feito em unidades hospitalares com experiência em transplante de medula óssea", disse o pesquisador. "Isso porque, durante o processo, a imunidade é comprometida. O paciente tem que ficar isolado, não pode ficar exposto. Não são todos os hospitais que podem fazer esse tipo de tratamento. Além disso a terapia tem efeitos colaterais."
A resposta imune progressiva pode causar febres altas, náuseas e dores musculares. Os pesquisadores não eliminam o risco de morte, e reconhecem que a forte baixa no sistema imunológico traz um potencial fatal para alguns pacientes.
Créditos: G1 Por Cíntia Paes, G1 Minas - Foto: Hugo Caldato/Hemocentro RP