Um homem investigado por participar de uma quadrilha que aplicava golpes em idosos no Paraná disse que o esquema contava com a participação de gerentes de bancos públicos e privados.
Segundo o investigado, que é corretor de seguros e não quis se identificar, os gerentes recebiam dinheiro para facilitar o esquema e para administrar reclamações de vítimas que percebiam descontos no extrato bancário.
"Vários gerentes de agências de bancos estão envolvidos porque receberam propina para administrar as broncas dentro das agências. Eu levei para um deles, foi R$ 5 mil, mas as propinas variavam pelo percentual da arrecadação", disse o corretor.
De acordo com a Polícia Civil, os golpes a idosos causaram prejuízos de cerca de R$ 30 milhões.
Segundo a Polícia Civil, a quadrilha ia até as casas de servidores públicos aposentados, com o argumento de que precisavam atualizar o cadastro ou vender seguros às vítimas. Assim, o grupo induzia os segurados da ParanáPrevidência a assinar os papéis.
Sem saber, os aposentados autorizavam débitos em conta corrente, conforme as investigações.
O corretor conta que participou do esquema entre 2014 e 2019, e que a autorização dos débitos ocorria mesmo quando as vítimas deixavam claro que não tinham interesse no serviço oferecido.
"O senhor falava 'não quero', então o senhor só dava um visto. 'Então assina aqui que o senhor não quer'. Assinava o papel, os timbrados, capa timbrada das instituições, dos bancos, seguradoras, e ia mais um débito para a conta", afirma.
Ainda conforme a polícia, só depois de alguns meses, os idosos percebiam que valores indevidos estavam sendo descontados automaticamente de suas aposentadorias e que tinham sido vítimas de um golpe.
Uma das vítimas conta que assinou os papéis acreditando que estava recusando o serviço oferecido pelo golpista.
"Eles são bem incisivos e já vêm com todos os documentos e dados da gente, no momento, mesmo que tenha uma identificação que eles tragam, aquilo ali não significa nada, né. Não dá para acreditar", conta a vítima.
Em 15 de agosto, a polícia cumpriu 105 mandados de busca e apreensão, em Curitiba e Região Metropolitana, em endereços de empresas envolvidas no esquema. As investigações tiveram inicio em 2018.
A Polícia Civil informou que 29 pessoas relacionadas às empresas são investigadas na operação, e confirmou que ouviu o corretor de seguros que citou a participação dos gerentes de bancos no esquema.
Entretanto, conforme a polícia, dias depois da operação, o andamento do inquérito foi suspenso por uma decisão da Justiça, que atendeu ao pedido da defesa de um dos investigados.
O pedido tem como base a decisão do ministro Dias Toffoli, que suspendeu todas as investigações em curso no país que tenham como base dados sigilosos compartilhados pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), como é o caso da investigação envolvendo a quadrilha.
"Os atos praticados anteriormente encontram-se válidos por enquanto, até uma decisão definitiva. A expectativa da Polícia Civil é que esse impasse seja resolvido e que a investigação corra seu curso normal a partir de então", afirmou o delegado Cassiano Aufiero.
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