12/01/2020
Irã admite que derrubou avião ucraniano por engano; presidente diz que tragédia é 'imperdoável'

O Irã anunciou neste sábado (11) que seus militares derrubaram sem intenção o avião ucraniano que caiu na quarta-feira (8) perto de Teerã. Na tragédia morreram 176 pessoas. O presidente iraniano, Hassan Rouhani, chamou o desastre de "erro imperdoável".
 

Militares informaram que o avião voava perto de um local sensível e foi derrubado devido a um erro humano. O comunicado lido na TV estatal diz que as partes ​​responsáveis serão punidas.

Operador tomou 'má decisão'
 
Amir Ali Hajizadeh, o comandante das forças aeroespaciais, afirmou que a Guarda Revolucionária aceita a responsabilidade plena pelo incidente.
A Guarda Revolucionaria explicou que o operador do sistema de defesa confundiu o avião com um míssil de cruzeiro.

 

 


Hajizadeh afirmou em uma declaração televisionada que o operador teve 10 segundo para decidir se iria disparar ou não, mas que ele tentou contatar seus superiores para obter a aprovação para efetuar o disparo, mas que o sistema de comunicação falhou e ele tomou "uma má decisão".
 
O avião foi derrubado por um míssil de curto alcance, segundo ele.
 

O comandante revelou neste sábado (11) que já sabia que o avião ucraniano foi derrubado por um míssil desde o dia em que o incidente aconteceu, 8 de janeiro.
 
“Eu desejo que pudesse morrer sem testemunhar um acidente como esse”, disse Hajizadeh. “Naquela noite estávamos prontos para uma guerra total”, disse ele. As unidades de defesa estavam em alerta e havia reforço ao redor de Teerã.
A Guarda Revolucionária havia pedido para que aviões comerciais não voassem, mas o pedido não foi cumprido, de acordo com ele. Hajizadeh relatou que na própria quarta (8) ele já tinha conhecimento de como se deu a derrubada.
“Eu informei as autoridades, eles precisavam examinar e checar o acidente; daí, isso foi para (os superiores militares) que agiram rapidamente e dentro de 48 horas essas checagens foram feitas”, disse.
 

Líderes dizem que vão investigar de quem é a culpa
 
O presidente iraniano, Hassan Rouhani, escreveu em uma rede social que uma investigação interna das Forças Armadas concluiu que a aeronave foi abatida por mísseis. Segundo o líder do Irã, as apurações sobre "essa grande tragédia e erro imperdoável" continuam.
O líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei, manifestou seus "profundos sentimentos" às famílias das vítimas e pediu para que as forças armadas "busquem os erros prováveis e a culpa no incidente doloroso".

Rouhani também declarou que seu país "lamenta profundamente". As Forças Armadas iranianas prestaram condolências a todas os parentes das vítimas. O ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohamad Zarif, também disse lamentar profundamente e pediu desculpas às famílias e aos mortos.
 

"É um dia triste", escreveu Zarif, o ministro de Relações Exteriores, em uma rede social, citando um "erro humano em tempos de crise causada pelo aventureirismo dos americanos. Nosso profundo arrependimento, desculpas e condolências ao nosso povo, às famílias de todas as vítimas e às outras nações afetadas".
 
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, cobrou um pedido oficial de desculpas de Teerã e pediu que as investigações sobre o desastre continuem.
 

Indícios
 
Canadá, Reino Unido e EUA diziam que o avião, um Boeing 737, foi abatido por um míssil iraniano, provavelmente por engano, e vários vídeos que apontam para esta tese foram postados nas redes sociais.
O Irã, entretanto, negava categoricamente a hipótese até a manhã deste sábado. Na sexta-feira (10), o chefe de aviação civil iraniano, Ali Abedzadeh, mostrou imagens da caixa-preta da aeronave e afirmou que qualquer declaração antes da análise dos dados seria "opinião".

O desastre ocorreu na madrugada de quarta (8), logo após o Irã disparar mísseis contra bases militares utilizadas pelas tropas americanas no Iraque, em resposta ao assassinato do general iraniano Qassem Soleimani em um ataque dos EUA.
 
O voo PS752 da companhia Ukraine Airlines International (UAI) decolou de Teerã rumo a Kiev e caiu dois minutos depois. Todas as 176 pessoas que estavam a bordo morreram no desastre. A maioria das vítimas era iraniana-canadense, mas também havia britânicos, suecos e ucranianos.

Vídeo do míssil

Um vídeo de cerca de 20 segundos mostra imagens de um objeto luminoso que sobe rapidamente para o céu e toca o que parece ser um avião.
O vídeo foi publicado por vários meios de comunicação, como o jornal "The New York Times".
Na quinta-feira, o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, afirmou que o Canadá tinha "informações de várias fontes" indicando que "o avião foi abatido por um míssil iraniano", acrescentando que "não foi intencional".
Antes, o presidente americano Donald Trump falou "suspeitas" sobre a queda do avião ucraniano. "Estava voando em uma área bastante difícil e alguém poderia ter se enganado".

Caixa-preta
 
Na sexta-feira (10), o Irã apresentou a caixa-preta da aeronave e prometeu anunciar a causa da queda do Boeing neste sábado. Em uma entrevista coletiva em Teerã, o presidente da Organização de Aviação Civil Iraniana (CAO), Ali Abedzadeh, tinha negado que o avião foi derrubado.
"Uma coisa é certa, este avião não foi atingido por um míssil", disse. Entretanto, Abedzadeh afirmou que as informações das caixas-pretas eram cruciais para a investigação. "Qualquer declaração antes da extração dos dados é uma opinião de especialistas".
Autoridades dos Estados Unidos entregaram ao presidente ucraniano Volodimir Zelenski "dados importantes sobre a catástrofe", segundo anunciou Kiev.
"Junto com o presidente Zelenski nos reunimos com autoridades americanas e recebemos informações que serão tratadas por nossos especialistas", disse no Twitter o ministro ucraniano das Relações Exteriores, Vadym Prystaiko.
Cerca de 50 especialistas ucranianos chegaram a Teerã na quinta-feira para participar da investigação e da análise das caixas-pretas. Uma equipe canadense de dez pessoas está "a caminho" para tratar de questões relacionadas às vítimas.
A agência canadense de segurança nos transportes aceitou um convite da autoridade de aviação civil iraniana para participar da investigação.
Apenas alguns países do mundo, incluindo Estados Unidos, Alemanha e França, têm a capacidade de analisar caixas-pretas.

 

Créditos: G1 - Foto: Ebrahim Noroozi/AP - Vídeo: divulgado pelo New York Times

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