O ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, alertou que a recomendação de uso da cloroquina e da hidroxicloroquina pode aumentar o risco de arritmia cardíaca entre idosos e que o uso do medicamento pode "piorar a situação" no combate ao novo coronavírus. A orientação do ex-ministro, ocorreu numa entrevista à GloboNews nesta quarta-feira (20).
Mandetta lembrou que, durante sua gestão no ministério, encontrou pressão para que o uso do medicamento fosse liberado, mesmo sem evidências que comprovem a eficácia do medicamento contra a Covid-19. Ele disse que o "conflito" começou quando o presidente Donald Trump disse ter encontrado na cloroquina uma possível saída para a crise.
"Na semana seguinte, nosso presidente aderiu", lembra. Entretanto, o ex-ministro lembra que o órgão regulador dos EUA retirou o apoio ao medicamento, mas a pressão persistiu no Brasil.
O ex-ministro afirma que o medicamento, atualmente usado contra malária e lúpus, tem efeitos colaterais e ressaltou que um dos principais é a arritmia cardíaca, que pode ser mais forte entre os mais idosos. "Pode piorar a situação", disse.
Ele lembrou que faltam estudos sobre o uso da cloroquina e que um dos primeiros estudos conduzidos no Brasil apontou complicações em 33% das pessoas internadas. "Essa dosagem que foi colocada, foi baseada em que? É muito empírico", disse Mandetta. "Não dá para fazer desse jeito", afirmou.
Mandetta fez referência à piada que o presidente Jair Bolsonaro apresentou durante transmissão de vídeo na terça-feira (19). "Nesse tempo em que o pessoal de direita toma cloroquina e o pessoal de esquerda, Tubaína, quem tem juízo escuta a medicina", disse o ex-ministro.
Ainda na opinião de Mandetta, as novas recomendações para uso do medicamento mesmo em casos leves parecem um "desvio" para justificar a retomada das atividades e o fim do isolamento social.
Créditos: G1- (Foto: reprodução)