Atualizado em 28/08/2020
Catador encontra mais R$ de 35 mil em cofre e relata: 'Comecei a gritar'

O funcionário da Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Materiais Recicláveis de Araçatuba (Acrepom), que encontrou R$ 36 mil dentro um cofre descartado pela Polícia Civil, afirmou que levou um susto ao ver tanto dinheiro.
“Fiquei apavorado e comecei a gritar. Nunca tinha visto tanto dinheiro em espécie na minha vida. Eu olhei e tinham pacotes e pacotes”, contou o catador Manoel de Sá, de 63 anos.

 


 
O caso foi registrado na manhã de quinta-feira (27). A quantia encontrada dentro de um fundo falso foi devolvida à Polícia Civil. Agora, o cofre passará por perícia.

Catador de recicláveis do interior de São Paulo dá exemplo de honestidade
Em entrevista ao G1, Manoel de Sá contou que foi mexer no objeto para utilizá-lo como suporte de uma pia improvisada e se deparou com o dinheiro.

“O cofre já estava aberto e todo amassado. A coordenadora pediu para pegá-lo. Eu me aproximei, chutei a tampa, que estava difícil de abrir, e vi o dinheiro separado em notas de R$ 100 e de R$ 50. Não precisei usar nenhuma ferramenta”.

Ao todo, 26 funcionários trabalham no galpão. Cada um consegue tirar por mês cerca de R$ 1,2 mil. A renda total gira em torno de R$ 30 mil a R$ 35 mil. Ou seja, a quantia encontrada dentro do cofre é basicamente o lucro que a Associação consegue obter mensalmente reciclando materiais.


No entanto, os catadores não tiveram dúvida em devolver o dinheiro. Eles retiraram as notas do cofre, fizeram a contagem e ligaram para a Polícia Civil.

 
Catadores de recicláveis acham mais de R$ 35 mil em cofre deixado para sucata pela polícia

“Eu estou trabalhando há três anos. Foi a primeira vez que encontrei dinheiro nos objetos. Me sinto gratificado, porque fizemos o certo em devolver a quantia”.
 

“Eu gosto de deitar minha cabeça no travesseiro e dormir tranquilo. Não conseguiria fazer isso se tivesse pegado o dinheiro. Usei minha honestidade que meu pai e minha mãe me ensinaram", complementa Manoel.
 

Afinal, como o cofre foi parar lá?
 
Ao G1, o coordenador da Central de Polícia Judiciária de Araçatuba (SP), Paulo César Cacciatore, explicou que o cofre foi encontrado depois de policiais militares receberam uma denúncia anônima informando que o objeto havia sido descartado no bairro Jussara, em Araçatuba, no ano de 2018.
“Ele estava arrebentado, destruído. Alguém furtou ou roubou, pegou o que tinha dentro, se tinha, e jogou o cofre no local. Ele foi apreendido e, na época, apresentado no 3º Distrito Policial. Deve ter sido realizada uma investigação, mas não conseguiram encontrar ocorrências que relacionassem com o cofre e com a vítima”.
Posteriormente, o cofre foi transferido para a Central de Polícia Judiciária em 2019, ano em que houve a unificação das delegacias de Araçatuba. Ele foi codificado e guardado em um depósito apropriado.


 


Tesouro no lixo
“Via de regra, não sei se é o caso, recuperamos um cofre furtado, mas a vítima não vai atrás. Elas largam e temos que ficar insistindo para buscarem. Para a delegacia, aquilo é um verdadeiro estorvo. Rotineiramente, fazemos uma análise das ocorrências e objetos apreendidos, porque não temos condições de ficar guardando coisas que não existe interesse da Justiça ou polícia”.

Paulo explica que foi realizada uma limpeza nos objetos apreendidos e que ele determinou que o cofre fosse levado para ser descartado. A decisão foi tomada depois de a polícia analisar boletins de ocorrências e não encontrar o dono.
"O valor foi apreendido. O cofre foi enviado para a perícia. Nós já começamos a tentar identificar ocorrências daquela época de furtos ou roubos, crimes contra o patrimônio, para tentarmos encontrar o dono".
O coordenador da Central de Polícia Judiciária também alegou que, particularmente, acredita que o objeto não tenha passado por perícia no ano em que foi apreendido.
“Ele já estava todo arrebentado. Se recebo uma ocorrência de um cofre, eu vou tentar encontrar a ocorrência original que pertence a um furto ou roubo, mas se eu não localizar, ele vai ficando. Eu já cuidei de casos que só faltou colocar o cofre na viatura e entregar na casa da pessoa, porque ela não vem buscar. A gente precisa limpar aos poucos os objetos apreendidos, porque é muita coisa”.
 

Incêndio e ajuda
 
Em junho deste ano, a Associação foi atingida por um incêndio que destruiu grande parte do galpão e equipamentos usados diariamente pelos catadores. Não houve registro de vítimas.
Um inquérito foi instaurado para investigar o caso. Menos de um mês depois, um laudo apontou que o incêndio foi provocado de forma criminosa.
Segundo a Polícia Civil, os peritos identificaram três focos diferentes, que não estavam interligados. O suspeito de cometer o crime ainda não foi localizado.
Por conta do ocorrido, a associada Alexandra Campos Alves, que trabalha na secretaria, contou que os catadores estão exercendo suas funções de forma improvisada.

“A produção não parou. O incêndio atingiu mais a parte de cima, onde ficavam a biblioteca, refeitório e cozinha. Estamos recebendo bastante ajuda, porque o pessoal se sensibilizou”.
Alexandra explicou que a Associação está precisando de dinheiro para consertar as máquinas que foram danificadas pelas chamas. O custo para arrumá-las é alto.
“Estamos passando por um momento complicado. Todos recebem pouco dinheiro. Lutamos muito. A quantia encontrada no cofre ajudaria demais, mas não era nossa. Ligamos para a Polícia Civil e devolvemos”.
Os R$ 36 mil vão ficar guardados em juízo. Existem detalhes na lei que permitem, ao fim da investigação, que a quantia possa ser encaminhada aos cooperados que encontraram o valor.


 

Créditos: G1 Rio Preto e Araçatuba- (Foto: Reprodução)

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