01/02/2021
Ministro diz que paralisação dos caminhoneiros tem conotação política e que não negocia com grevistas

Em um áudio vazado, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, afirmou a caminhoneiros da cidade gaúcha de Capão da Canoa que não negociará com grevistas. Ele argumenta que o Brasil está passando por uma crise sem precedentes e que uma paralisação da categoria só vai piorar a situação. Parte dos caminhoneiros convocou greve para segunda-feira (1º).
“Eu não negocio com quem faz greve”, diz Tarcísio no áudio vazado à imprensa. “Eu sempre conversei com todos. Achar que tem que fazer paralisação para conversar, esquece. Enquanto tiver paralisação, eu não converso com ninguém. Quando acabar a gente volta a conversar”, completa. Segundo o ministro, seria dar "palanque para quem tá querendo fazer greve”.

 

 

Greve dos caminhoneiros: conotação política
Ainda no áudio, Tarcísio afirma que a greve dos caminhoneiros convocada para esta segunda-feira tem conotação política, já que está marcada para o mesmo dia da eleição para as presidências da Câmara e do Senado.
“Por que o movimento foi montado para o dia da eleição da mesa-diretora [da Câmara e do Senado]? Aí vem dizer que não tem conotação política. Tem gente por trás. Não faz sentido marcar um movimento no dia da eleição das Casas [Legislativas]”, reclama o ministro.

O caminhoneiro que conversa com Tarcísio no áudio afirma que a paralisação não tem conotação política. O ministro rebate: “A turma se infiltra. Tem muita gente apostando contra nós”.
O áudio começou a circular em grupos de WhatsApp neste domingo (31). Trata-se de uma conversa do ministro Tarcísio com representantes de uma associação de caminhoneiros da cidade gaúcha de Capão da Canoa. A conversa é intermediada pelo vice-presidente da associação. O conteúdo do áudio foi divulgado primeiro pelo Portal Uol e confirmado pela Gazeta do Povo, que também teve acesso ao material.
Em entrevista ao Estadão, o ministro confirmou a autenticidade do áudio, mas disse que se tratava, apenas, de esclarecer o papel do governo em cada demanda, "o que é possível fazer e o que não é".

Em nota enviada à Gazeta do Povo, o Ministério da Infraestrutura também confirma que o ministro conversou, por telefone, com representantes da Associação dos Caminhoneiros e Condutores de Capão da Canoa (RS). Segundo a pasta, durante a conversa, o ministro reafirmou o seu posicionamento em referência às ações setoriais adotadas pelo governo.
Ele também reforçou a total abertura para o diálogo com todas entidades que demonstrem interesse em fazer parte da formulação da política pública, e o posicionamento de não negociar com qualquer indicativo de paralisação ou locaute. Por fim, o Ministério afirma que Tarcísio falou com os caminhoneiros sobre a tabela de frete e a necessidade de estimular a economia para ampliar o mercado do transporte rodoviário de cargas.


No áudio com caminhoneiros, o ministro Tarcísio afirma que o governo não vai promoter o impossível à categoria, e somente com a recuperação da economia o preço do frete vai melhorar. “Frete bom, trabalho não vai acontecer enquanto a economia não se recuperar. Não vamos prometer o impossível.”

O ministro lembra que a situação está difícil para todos. “E fazer uma paralisação agora é deixar ainda mais difícil. Só de anunciar greve, o investidor vai embora. Se não tiver investimento, não tem emprego e não tem transporte. Se vocês pararem, a situação vai ficar pior. Não é difícil perceber”, afirma.

Ele pede que os caminhoneiros “desmamem” do Estado. “Enquanto caminhoneiro não começar a pensar como empresário, e que ele está inserido num contexto de transporte que está em modificação, não se preparar paro mercado, vai ter dificuldade”, diz. “Enquanto vocês não desmamarem do governo, vocês vão ver as empresas [de frete] crescendo e vocês com cada vez mais dificuldade”, completou.
Tabela do frete e greve de 2018
Tarcísio criticou a greve de caminhoneiros de 2018 no áudio. “A greve de 18 não resolveu, só quem ganhou foram as transportadoras. Tem mais caminhão hoje. A greve de 2018 só fortaleceu as empresas de transporte.” O caminhoneiro que conversa com o ministro rebateu e disse que as promessas feitas pelo governo para encerrar a greve na época não foram cumpridas.
Sobre a tabela do frete, o ministro admitiu que ela não funcionou. “O piso mínimo de frete não vai funcionar nunca, porque você pode colocar a agência pra fiscalizar, já temos mais de 13 mil atuações. E adiantou alguma coisa? Adiantou nada”, reclama Tarcísio.

Já o caminhoneiro que intermedia a conversa com o ministro no áudio vazado argumenta que a categoria está dando sua contribuição, mas não é vista pelo governo. “Quem está tendo prejuízo somos nós, motoristas, com o preço do óleo diesel e das medidas que não foram cumpridas. Está insuportável, não temos como trabalhar dessa forma”, relata o líder.

O representante do movimento dos caminhoneiros afirma que, se o governo não acenar com nada, a paralisação vai acontecer, porque a situação está insustentável. “Queremos, ao mínimo, alguma proposta do governo”, pede o caminhoneiro.

O ministro diz que as propostas já estão na mesa e lembra que o governo vem instalando postos de descanso nas estradas, colocando a obrigatoriedade dos postos nas novas concessões, lançando a linha de estimulo ao cooperativismo (Roda Bem Caminhoneiro) e prevendo redução das tarifas de pedágios nos novos contratos de concessão de rodovias, como da Presidente Dutra.

“Tem que parar de achar que a culpa de tudo é do governo, a culpa é da circunstância, não somos nós que contratamos frete, não somos nós que estabelecemos preço, é o mercado”, afirma Tarcísio no áudio vazo.

Créditos: Por Jéssica Sant'Ana

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