Moradores de Caraguatatuba, município costeiro do litoral norte de São Paulo, foram surpreendidos neste domingo, 25 de julho, pelo nível excepcionalmente baixo do mar. O recuo de dezenas de metros chegou a ser relacionado a um tsunami, o que gerou grande preocupação.
De fato, uma intensa recessão do mar precede a ocorrência de um maremoto. No entanto, para tranquilidade dos moradores, a origem do recuo está ligada a um fenômeno bem menos perigoso.
Segundo o pesquisador em geociências do Serviço Geológico do Brasil, o oceanógrafo Vadim Harlamov, o recuo forte do mar poderia ser prenúncio de um tsunami, mas dada a geologia do Atlântico e do nosso litoral, tsunamis são altamente improváveis no Brasil.
"Quando muito, nossos sensores percebem "ecos" de tsunamis que aconteceram do outro lado do mundo e chegam aqui na forma de uma onda ligeiramente diferente, que não conseguiríamos distinguir das demais, muito menos perceber o recuo do mar", explicou.
Mas se as chances de tsunami no Brasil são semelhantes a ganhar sozinho na loteria, afinal qual a causa do fenômeno incomum que fez muita gente, ao ver o mar recuando tão rápido, abandonar a praia e buscar refúgio na serra de Caraguatatuba? A resposta simples: maré, ventos e uma praia muito plana.
Harlamov explica que o recuo é efeito da maré astronômica mais intensa, chamada "maré de sizígia", que ocorre duas vezes ao mês, na lua nova e cheia. Ou seja, o mar recua mais, porém sobe mais ao longo do dia, ao contrário da época de lua crescente e minguante, quando essa variação é bem menor.
"Numa praia plana, como é o caso da Praia do Camaroeiro, esse efeito é muito mais perceptível. Porém, a maré de sizígia ocorre duas vezes ao mês e a declividade da praia essencialmente é a mesma, a não ser para um observador muito atento e que a tenha observado por muito tempo", comenta.
O que aconteceu de diferente agora foi a chegada de uma frente fria, com vento soprando forte de norte-nordeste.
"No mar, quando o vento sopra, a corrente que ele gera vai para o lado esquerdo no Hemisfério Sul, fenômeno conhecido como deriva de Ekman. Coincidentemente, a orientação da linha de costa do litoral de São Paulo é na direção nordeste-sudoeste. Com o vento soprando paralelo ao litoral, as correntes fluem para o oceano aberto, retirando água da costa. Em alguns lugares, a água removida pelo vento soprando ao longo da costa acaba sendo substituída por outra, que vem do fundo e é mais fria", detalha o pesquisador.
Ele lembra ainda que evento semelhante ocorre em Cabo Frio (RJ). Em agosto de 2017, com a aproximação de uma frente fria, foram relatados recuos do mar de até 50 m, desde a costa uruguaia, incluindo Montevidéu. Já os tsunamis são provocados por sismos e erupções vulcânicas e ocorrem com maior frequência no Oceano Pacífico. As ondas podem atingir uma altura de trinta metros.
Créditos: Clima tempo - Foto: João Rapacci