Com 47 unidades em operação e um faturamento de R$ 97 milhões, a rede de franquias Quiero Café surgiu há pouco mais de sete anos, em 2015, em Teutônia, uma cidade com pouco mais de 33 mil habitantes no interior do Rio Grande do Sul. O negócio foi fundado pelos amigos Luís Felipe Wallauer Ferreira e Matheus Fell, ambos de 32 anos, após eles sentirem falta de um local descolado e que pudesse receber reuniões de amigos ou parceiros de negócios na cidade.
Ferreira, que é advogado, trabalhava em um escritório e sempre via os chefes irem a cafés para reuniões com clientes. Mas, de acordo com o empreendedor, nenhum dos estabelecimentos existentes proporcionava um ambiente acolhedor, parecido com o que ele já tinha visto em grandes cidades. Assim, desafiado por um dos chefes, ele próprio resolveu que montaria um lugar assim, e chamou o amigo, Fell.
A inspiração foram as grandes cafeterias que eles tinham visto em São Paulo, Porto Alegre e até no exterior. Desde o início, os dois desenharam o negócio para que fosse possível crescer com franquias no futuro. Fell já empreendia com um negócio familiar de transporte de cimento a granel desde 2011, e levou a experiência de gestão para a Quiero Café.
“Naquele momento aflorou um sentimento de fazer algo legal para nossa cidade, um ambiente diferente. Um lugar que nós gostaríamos de frequentar. Morador de cidade pequena não tem isso”, diz Fell.
Essa característica, inclusive, fez com que o negócio crescesse sem uma “persona” definida. O alvo eram todos os moradores da cidade. Assim, o negócio começou como uma cafeteria, mas aos poucos foi adquirindo características de restaurante, com pratos mais complexos e até happy hour.
Os dois não tinham experiência com alimentação, e começaram com um investimento inicial de cerca de R$ 120 mil. O plano era que, se o plano não desse certo em três meses, eles venderiam a empresa e recuperariam metade do que tinha sido aportado. “Era um negócio super enxuto, se tivéssemos tentado fazer em uma cidade maior, poderíamos ter tido mais problemas”, diz Fell.
Os empreendedores abriram o estabelecimento sozinhos, apostando em algumas encomendas prontas e revezando o atendimento com a cozinha e os seus empregos, que eles ainda mantinham. Enquanto Fell tentava resolver demandas da transportadora à distância, pelo telefone, Ferreira continuou advogando por mais de um ano enquanto comandava a Quiero Café. “Eu já fritei as coisas da cafeteria com terno e gravata”, diz.
Apesar das dificuldades iniciais, a Quiero Café acabou se tornando um point em Teutônia. Uma semana depois da inauguração, eles já contrataram pessoas para ajudá-los. Seis meses depois, foram pesquisar sobre como formatar o negócio para franquia.
“Quando se pensa em franquia, a ideia é ter poucos produtos e processos enxutos. Nós temos muitos produtos, muitos processos, e isso foi um desafio na hora da formatação. O que sabemos fazer é uma operação mais complexa, mas isso nos ajudou a encontrar espaço em cidades com culturas distintas, justamente por não sermos muito nichados”, diz Fell.
A segunda loja da marca, ainda própria, foi aberta em Lajeado (RS), cidade com 85 mil habitantes, em 2017. A ideia era testar a aceitação em praças maiores antes de expandir. “Em Teutônia tínhamos oito funcionários, e a nova loja já começou com 22. Precisamos aprender sobre gestão de pessoas e de negócios mais a fundo. Queríamos entender os desafios que o franqueado teria”, comenta Ferreira.
Conforme a nova loja foi ganhando corpo, os dois foram saindo da operação para pensar na expansão de forma mais estratégica. Eles criaram uma estrutura para a franqueadora e abriram a primeira unidade franqueada em Santa Cruz do Sul, já em 2017. A partir daí, o crescimento começou em espiral, em cidades do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Minas Gerais. Atualmente, são 47 franquias.
A decisão de manter a expansão próxima à região Sul, em um primeiro momento, foi tomada por questões logísticas. A empresa centralizou a produção de “tudo o que envolve sabor”, como molhos e recheios, dentro da marca. Algumas indústrias foram homologadas para a produção de itens como tortinhas e doces em geral. A preocupação é manter o padrão dos pratos em todas as lojas. “A finalização, montagem e preparo de itens mais básicos, como arroz e legumes, sempre é na operação”, diz Ferreira.
A Quiero Café tem crescido com números expressivos desde sua fundação. No ano passado, o salto foi de 78%. Até mesmo no mais complicado ano de 2020, a evolução foi de 80%, por conta das inaugurações. “Comparando apenas as lojas que já existiam, entre 2019 e 2022 o crescimento foi de 37%”, diz Fell. Entre 2018 e 2021, foram inauguradas 21 franquias.
Para este ano, a ideia é abrir uma nova base própria em Campinas (SP) para ajudar a expandir a marca no estado de São Paulo, a grande vitrine nacional de empresas de franquia.
O investimento inicial para se tornar um franqueado é de entre R$ 600 mil e R$ 800 mil, para uma loja de 250 metros quadrados. O retorno é estimado em até 36 meses. “Pretendemos terminar 2023 com mais de 60 unidades e faturamento próximo a R$ 145 milhões, além de avançar com foco na expansão para o Sudeste em 2024”, afirma o empreendedor.
Créditos: Pequenas Empresas e Grandes Negócios Luís Felipe Wallauer Ferreira e Matheus Fell, fundadores da Quiero Café — Foto: Felipe Gaieski