20/05/2019
Asma: Pacientes são prejudicados por falta de conhecimento sobre a doença.

Se o número de 20 milhões de asmáticos no País impressiona, o dado de que apenas 4% deste grupo é diagnosticado com a doença grave parece aliviar a informação. Na verdade, 800 mil é um número alto de pacientes que resistem aos medicamentos mais simples e passam boa parte de seus dias sofrendo com falta de ar, tosse, fadiga e dores no peito. Em situações extremas, mas não raras, ela mata: em média, entre seis e sete pessoas por dia morrem de asma no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde.

Hábitos ruins como falta de cuidado do paciente, automedicação e atendimento ambulatorial precário não só tornam fatais casos contornáveis com atendimento e acompanhamento adequados como faz brasileiros que poderiam conviver pacificamente com o mal (96% do total) deixarem agravar sintomas que poderiam ser controlados com remédios distribuídos pela rede pública.

 

 
 
“As pessoas têm acesso aos medicamentos nas farmácias populares, mas poucas sabem como usá-los”, diz o médico José Eduardo Delfini Cançado, membro da Comissão de Asma da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT). De acordo com Cançado, usando dados da SBPT, 85% dos pacientes que pegam remédios de graça não se tratam como deviam. “Usam da forma errada e quando acham que precisam. Eles estão, no máximo, combatendo as crises.”

Segundo os profissionais de saúde que participaram do Fórum Estadão Cuidados com a Asma, na última terça-feira, 14, na capital paulista, falta informação tanto aos pacientes quanto, principalmente, aos profissionais de medicina básica, de enfermeiros e clínicos dos postos de saúde espalhados pelo País a médicos de família. "Quando alguém sente problemas respiratórios, vai ao SUS (Sistema Único de Saúde) e, mesmo tendo um quadro fácil de ser resolvido, é encaminhado a um especialista em pneumologia ou alergia, com filas de espera que chegam a seis meses", afirmou Cançado.

(Des) Informação 
Essa prática prejudica quem, mal orientado, tende a continuar sofrendo e afeta todo o sistema, lotando os consultórios dos especialistas com cidadãos que poderiam ser tratados por clínicos e enfermeiros. "Hoje, no Brasil, há cerca de 5 mil pneumologistas e alergistas, e eles mal conseguem lidar com os pacientes graves", explicou Norma Rubini, coordenadora da Comissão de Políticas de Saúde da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai).

Norma comenta que o acesso às informações, via redes sociais ou buscadores na internet, não tornou as vítimas mais esclarecidas sobre o assunto. Em várias situações, ocorreu o contrário. “Elas ouvem dizer que a bombinha pode viciar e que o corticoide usado por muito tempo faz mal, e param de se medicar”, afirma. “A asma não tem cura, e não se pode interromper o tratamento”, alerta. E explica que a cortisona utilizada na maior parte das vezes é de uso tópico, menos agressiva que a de uso oral ou venoso. 

Outro mito é de que os broncodilatadores fazem mal ao coração. A crença tem fundamento, mas é ultrapassada. Os remédios antigos costumavam causar taquicardia, mas evoluíram e sanaram esse efeito colateral.

A falta de cuidados no tratamento enche também as unidades de saúde. De acordo com Eduardo David Gomes de Sousa, integrante da Coordenação-Geral de Atenção Especializada e Temática (Daet), órgão ligado ao Ministério da Saúde, o SUS realiza anualmente cerca de 30 milhões de procedimentos relacionados à asma. “Muitas dessas crises seriam facilmente evitadas se houvesse mais informação em todo o sistema”, analisa.

 

Justiça 

A desinformação estimula ainda a judicialização, quando um paciente busca na Justiça um remédio específico para se tratar, mesmo que não haja comprovação de sua eficácia. “A prática beneficia uma única pessoa com compras de produtos caríssimos e fragiliza o restante do sistema”, disse o coordenador de Assistência Farmacêutica da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, Victor Hugo Costa Travassos da Rosa.

Segundo ele, a judicialização mostra a fragilidade da prevenção no País. “Os medicamentos estão disponíveis, mas nos falta conhecer as pesquisas e a evolução dos tratamentos no mundo. E, mais que tudo isso, é preciso aprimorar o acompanhamento dos casos, para evitar que apenas distribuamos caixinhas de remédio, sem saber se serão eficazes e utilizados da forma correta”, acrescenta. 

Créditos: Por Estadão (Foto: Divulgação internet)

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