O ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, demitido do governo de Jair Bolsonaro por defender medidas contrárias às do presidente em relação ao coronavírus, diz que o governo foi avisado sobre o números de casos e mortes no país desde o início da crise. Ou seja, o ex-capitão já sabia da gravidade dos impactos da pandemia e, mesmo assim, insistiu em defender medidas contrárias às dos especialistas.
“Ele [Bolsonaro] claramente entendia que a crise econômica advinda da saúde era inaceitável, por mais que alertássemos que era uma doença muito séria e que o número de casos poderia surpreender”, afirma o ex-ministro, em entrevista à Folha de S.Paulo.
“Nunca falei e nem vou falar quais, mas tínhamos nos nossos estudos cenários de número de casos e óbitos. Nada do que está acontecendo hoje é surpresa para o governo federal”, continua.
Com relação à insistência de Bolsonaro no uso da cloroquina, Mandetta diz que prescrição generalizada do medicamento poderá aumentar número de mortes em casa.
“Começaram a testar [a cloroquina] pelos graves que estão nos hospitais. Do que sei dos estudos que me informaram, e não concluíram, 33% dos pacientes que estavam em hospital, monitorados com eletrocardiograma contínuo, tiveram que suspender a cloroquina porque deu arritmia que poderia levar a parada. Esse número assustou, é alto”, comenta.
Para ele, Bolsonaro não tem respaldo científico ao defender o medicamento.”Ninguém colocou no papel, ninguém demonstrou. A [médica Nise] Yamaguchi é uma que, quando você pergunta ‘onde está escrito isso?’, fala: ‘é a minha impressão’”, critica o ex-ministro.
“O Donald Trump [presidente dos EUA] defendeu a cloroquina, mas voltou atrás e parou. Nos EUA, isso gera processo contra o Estado. Aqui no Brasil não, se morrer, morreu”, lamenta.
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