Atualizado em 12/09/2020
Em fazenda mineira, vacas leiteiras usam sutiã e evitam problemas no úbere

O sutiã – ou soutien, para os que preferem um termo estrangeiro – é uma peça tradicional do vestuário feminino. O acessório surgiu no começo do século passado para moldar, sustentar e até esconder as mamas das mulheres da época, e foi patenteado no ano de 1914, nos Estados Unidos.

O sutiã (no caso, a queima dele) já foi o símbolo do movimento da libertação feminina. Tem gente que não vive sem, enquanto outras pessoas, simplesmente não o usam.

 

Mas não é o caso das vacas do rebanho da Fazenda Zuniga, propriedade localizada na cidade de Serranos, região sul de Minas Gerais. Por lá, as mimosas lactantes do rebanho usam e aprovam a peça.

O sutiã já faz parte das vacas lactantes da Zuniga desde o ano passado, quando Eveline Zuniga, médica veterinária e filha do proprietário da fazenda, Carlos Zuniga, visitou um rebanho leiteiro na Islândia, país localizado na Europa. Lá, ela percebeu que os animais usavam um tipo de sustentador no úbere.


“Eu questionei o que era aquilo para a proprietária dos animais e ela me perguntou se eu não sabia para que servia um sutiã”, contou Eveline, que imediatamente foi a uma loja local comprar o acessório. “Eu não conhecia a técnica, mas na Islândia, o uso do sustentador é padrão, sobretudo em animais mais velhos ou que tenham o ligamento do úbere afrouxado”, explicou.


De acordo com a médica veterinária, o sustentador – ou sutiã para vacas – é um acessório auxiliar para animais que possuem frouxidão no ligamento do úbere ou que apresentam edemas pós-parto, problemas bastante frequentes no rebanho leiteiro. Em outros casos, pode prevenir acidentes e até prolongar a vida das vacas.


“O acessório promove o bem estar animal das vacas, principalmente os animais mais idosos”, afirmou. “Em vacas leiteiras, a pressão no ligamento aumenta muito no início da lactação e o sustentador ainda pode auxiliar na distribuição do peso do úbere para o dorso do animal. Com o sustentador, o úbere fica protegido e os animais ficam menos propensos a sofrerem lesões acidentais nos tetos, como um pisão”.

O acessório, segundo ela, pode ainda prolongar a vida das mimosas. “Especialistas na área de bovinos leiteiros mostraram que a peça pode ser realmente muito útil para toda a cadeia, inclusive para o gado de elite, já que muitas vezes, a matriz é doadora e, às vezes, é necessário descarta-la, pois o animal não aguentaria produzir leite por mais uma ou duas lactações por conta da frouxidão ligamentar do úbere”, disse Eveline. “O sustentador do úbere pode auxiliar na longevidade dessa vaca”.

Novidade no galpão
Na Fazenda Zuniga, que tem um rebanho de cerca de 190 animais, o sutiã fez o maior sucesso entre as lactantes, contou Eveline. Assim que chegou com a novidade da Europa, experimentou a peça em uma vaca que apresentava sintomas de afrouxamento do ligamento médio do úbere e edemas provocados pela mastite.


“Ela demorou algumas horas para compreender o que estava acontecendo, mas assim que a soltamos no galpão [na fazenda, o sistema utilizado é o compost barn], ela já se sentiu à vontade e despertou a curiosidade das companheiras de lote”. Eveline conta que o animal utilizou o sutiã por um mês e teve os sintomas de mastite reduzidos consideravelmente. “No outro dia, na ordenha, ela não tinha desconforto algum”.


A médica veterinária alerta que o sustentador não é um acessório para o tratamento da mastite, mas o seu uso na “vaca modelo” certamente ajudou a abrandar os edemas. “Faz mais sentido concluirmos que o manejo com esta vaca melhorou com o uso do sutiã, e a mastite nesse animal diminuiu”, observou. “Não houve um aumento na produção leiteira [na Zuniga, as vacas produzem em média 28 litros por animal por dia], mas acreditamos que o bem estar animal proporciona, ao longo do tempo, aumento de produtividade”.

Como havia adquirido apenas uma peça na Islândia, e os resultados iniciais do uso do acessório demonstravam aumento do bem estar dos animais, Eveline procurou uma costureira local para produzir mais sutiãs. “Compramos materiais semelhantes aos do original e produzimos mais dois sutiãs, que usamos em animais que apresentam a frouxidão ligamentar e deu certo. Temos a ideia de implantar a técnica na propriedade, principalmente usar em vacas com úberes muito pesados ou edemaciados no pós-parto”, disse a criadora.

 

Créditos: Globo Rural- (Foto: Eveline Zuniga)

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