Além das vacinas contra a gripe e a covid-19, o Instituto Butantan trabalha no desenvolvimento de outros imunizantes para o uso dos brasileiros, como uma fórmula contra a dengue. O estudo contra o vírus está na terceira e última fase antes da aprovação, com todos os voluntários já recrutados. A expectativa é que a pesquisa seja finalizada até 2024.
Com a proximidade do verão, o número de casos de dengue tende a crescer no país e este é um movimento acompanhada há muitos anos, mas de difícil solução. Afinal, barrar o avanço da doença depende do controle do mosquito Aedes aegypti, capaz de se reproduzir em locais de água parada. Em algumas regiões com falta de infraestrutura, este é um grande desafio.
Hoje, existe uma vacina contra a doença disponível no Brasil, a Dengvaxia, da farmacêutica Sanofi-Pasteur. No entanto, o uso é limitado e a fórmula não é disponibilizada gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Dessa forma, uma nova alternativa para a prevenção da dengue pode ser benéfica.
Por outro lado, somente em 2019, o Brasil registrou 1,48 milhões de casos, sendo 689 mortes. Diante desse cenário, o Butantan começou os seus estudos por uma vacina contra o vírus ainda em 2009. Em paralelo ao estudo clínico de Fase 3, o Butantan já avalia o escalonamento da vacina. Isso significa que o instituto analisa formas de elevar a produção, hoje, de ensaios em laboratório para um nível industrial.
Como a vacina funciona?
A vacina do Butantan usa a técnica de vírus atenuado (enfraquecido) contra a dengue, o que induz a produção de anticorpos sem causar a doença e com poucas reações adversas. “Sempre que se planeja fazer uma nova vacina, o ideal, quando possível, é utilizar um vírus atenuado, pois geralmente gera uma resposta mais eficiente e duradoura”, explica a gerente de projetos do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas Virais do Butantan, Neuza Maria Frazatti Gallina.
A atenuação do vírus deve ser feita pelo Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos (NIAID), um dos parceiros do Butantan na iniciativa. Estes agentes infecciosos enfraquecidos serão cultivados em células Vero do macaco verde africano. Em seguida, a matéria-prima é purificada e segue para a formulação. A última etapa é a liofilização — processo que transforma o líquido em pó — e a criação do diluente para diluir o pó no momento da aplicação da vacina.
Além disso, a fórmula deve ser tetravalente, ou seja, protegerá contra quatro tipos de dengue (tipo 1, 2, 3 e 4). Vale lembrar que as vacinas contra a gripe também são tetravalentes. Essa alternativa costuma ser válida quando diferentes variantes de um mesmo vírus, carregado com mutações, circulam pelo mesmo local.
Expectativas na luta contra a dengue
“A vacina vai ser um dos principais componentes de combate à doença, mas é importante ressaltar que não é só a vacina que vai combater a dengue. Nós temos que continuar realizando todas as outras formas de ajudar a combater o mosquito e, portanto, a transmissão da dengue”, lembra o diretor do Centro de Segurança Clínica e Gestão de Risco, Alexander Precioso.
“As pessoas vacinadas vão evitar hospitalizações e mortes e isso vai tornar a dengue controlada no país”, explica Neuza. “Em qualquer situação é importante agir na prevenção. Na saúde pública, a prevenção de doenças é feita principalmente com vacinas”, completa.
Créditos: Instituto Butantan Foto: Reprodução internet ilustrativa