Há quem acredite que o cão é o melhor amigo do homem. Na vida do autista Guilherme Fernando Nunes, de 25 anos, esta teoria foi testada e aprovada em Chapecó. Além de uma excelente companheira, a cadela Pandora, da raça Golden Retriever, é sua guia e o acompanha em praticamente todos os lugares.
Devido à beleza e simpatia de Pandora, por onde passa ela atrai olhares curiosos. Algumas pessoas inclusive param para acariciar e fazer perguntas a Guilherme. Hoje, a situação que até pouco tempo atrás seria desconfortável para o jovem, tornou-se comum e até mesmo divertida. Isso porque o tratamento com cães pode auxiliar na socialização de pessoas autistas, quando indicado por um profissional capacitado.
“Antes eu não conseguia me comunicar com pessoas desconhecidas. Para mim, isso era extremamente desagradável. Hoje as pessoas me param na rua para fazer perguntas e isso se tornou algo comum”, relata o jovem.
A Pandora está na família há um ano e o auxilia em diversos aspectos da vida social.
“A mudança do Guilherme é nítida desde que a Pandora chegou. Antes ele era bem mais introspectivo, tímido”, comenta a mãe, Terezinha Nunes.
Antes de se tornar uma cadela guia, Pandora precisou passar por meses de adestramento. Além de auxiliar na inserção social, a cadela é semanalmente treinada para aperfeiçoar suas tarefas de proteção.
“Uma das funções dela é se movimentar ao meu redor para evitar que as pessoas fiquem me tocando. Ela também reconhece meu cheiro para me procurar caso eu tenha uma crise e precise sair de um ambiente tumultuado, por exemplo”, explica o autista.
Direito assegurado por Lei
Um passo a frente no que se refere aos direitos das pessoas autistas foi dado em Chapecó. No último dia 25 de novembro foi sancionada a Lei nº 7.560, que assegura às pessoas com deficiências o direito ao acompanhamento do cão de assistência em todos os locais e meios de transporte públicos ou privados, exceto restaurantes e praças de alimentação.
Os cães de assistência deverão portar coleira identificadora com informações sobre o animal. Além disso, deve estar registrado junto ao órgão municipal competente, mediante apresentação do laudo clínico em relação à pessoa com deficiência, laudo veterinário que ateste a saúde do animal e certificado de adestramento.
O advogado Paulinho da Silva, membro da comissão estadual da OAB (Ordem dos Advogados Brasileiros) em defesa dos direitos das pessoas com deficiência, falou sobre a importância de leis que assegurem direitos como o do cão guia.
“As pessoas com deficiência tem uma vulnerabilidade maior perante a sociedade. Quando você cria mecanismos para que elas consigam exercer seus direitos são quebradas barreiras e a vida dessas pessoas se torna o mais próximo possível com o dia a dia de pessoas não deficientes”, disse.
Diagnóstico tardio
Depois da chegada de Pandora na vida de Guilherme, houve uma melhora significativa nos sintomas de autismo. Porém, nem sempre foi assim. Apesar de o jovem ter sido diagnosticado apenas aos 20 anos, sempre apresentou sinais do transtorno.
“Eu nasci em 1996, naquela época a maioria das pessoas não sabiam o que era autismo. Então todos pensavam que os traços do autismo faziam parte da minha personalidade. Eu era taxado como tímido e antissocial. Até que, durante uma consulta de rotina em um posto de saúde eu fui diagnosticado como autista”, conta.
No início, a família não sabia o que era autismo e ficou bastante assustada com a descoberta. Com o acesso à informação, perceberam que é possível tratar o transtorno e viver uma vida normal. “O autismo não tem cura. É uma questão de processo de evolução. Até alguns anos atrás, eu não conseguia ter nenhum contato visual com as pessoas. A partir do momento que eu tive acesso ao tratamento, minha vida melhorou muito”, afirma.
Embora Guilherme apresente sintomas como dificuldade de estar em ambientes tumultuados, sensibilidade sonora e problemas de concentração em determinadas situações, o jovem vive uma rotina comum. Ele trabalha em uma empresa como assistente financeiro e estuda para cursar medicina veterinária.
Por já ter sido muito incompreendido, o jovem aconselha a todos a buscarem mais informações sobre o autismo, especialmente pessoas que convivem com autistas.
“Já fui várias vezes chamado devido à minha sensibilidade ao barulho e ao toque. Enquanto, em mim, o que é irrelevante para outras pessoas dói profundamente. Por isso aconselho a todos a se informarem. Se todos fossem conscientes e perguntassem se algo incomoda, a vida de pessoas autistas seria muito melhor”, finaliza Guilherme.
Créditos: Oeste em Foco - Foto: Reprodução