Por Alexandre Bággio – A direção do Hospital Pró-Vida, de Dois Vizinhos, comunicou, na manhã de ontem, no Programa Sete e Meia, na Rádio Educadora AM, que está cancelando todas as cirurgias eletivas em virtude da falta mundial de alguns insumos, entre eles, o soro fisiológico.
A Casa de Saúde conta com um estoque para 60 intervenções de emergência. “Está faltando soro e alguns medicamentos no mercado.
É um desabastecimento mundial desses insumos que está afetando nosso trabalho. Para o pessoal ficar mais tranquilo, nós temos estoque para garantir cesáreas, cirurgias de apêndice e as mais complexas. Hérnia, vesícula, joelho, ombro, as vasculares, que também precisam desses insumos, estão canceladas até o pessoal da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) ou dos nossos fornecedores conseguirem esses insumos. A sociedade precisa entender que não é falta de dinheiro para comprar o insumo. Uma cirurgia de vesícula, a gente sabe que a pessoa tem dor, mas não é uma cirurgia de emergência, mas é eletiva. A pessoa vai ter que aguardar até regularizarmos a situação. Estamos na lista de todos os fornecedores para tentar comprar uma cota e estamos na expectativa. A sociedade precisa entender que não é falta de dinheiro para comprar o insumo”, disse Maurício Ferraz, diretor do Hospital Pró-Vida.
Maurício Ferraz destacou que a matéria-prima para produção desses insumos vem de países como China e Índia, que estão encontrando dificuldades na luta contra o coronavírus. Outro agravante é a guerra da Ucrânia. “Parece um absurdo faltar soro, mas o cenário é esse hoje.”
A farmacêutica Ana Paula Dzivielevski destacou que existe uma dificuldade também com outros produtos.
“Não é só no Paraná, é no Brasil todo, na semana passada, a saúde de São Paulo publicou que tem 40 itens em falta. Temos falta, por exemplo, de Dipirona, uma medicação que, só em abril, no Pró-Vida, foram consumidas mais de duas mil ampolas. Temos medicamentos, mas só necessários para emergência. Na semana passada, alguns hospitais entraram em contato para pedir empréstimo de soro. A gente costuma fazer isso, é uma mão amiga, mas não tivemos como emprestar porque nosso estoque está muito pequeno e nenhum fornecedor tem disponível. Há um mês tínhamos cancelado as cirurgias porque estava faltando Neostigmina, uma medicação utilizada no centro cirúrgico. A gente pagava R$ 1,00 e subiu para R$ 55,00 a ampola. Os medicamentos tiveram reajuste de 6,13% mas sabemos muito bem que aumentou mais que isso. Tem fornecedores cobrando uma porcentagem que nem sei dizer. O soro fisiológico, esse de um litro, que é o que mais sai, a gente pagava no máximo R$ 7,00 e foi pago R$ 18,70 na última compra. A cada mês aparece uma dificuldade nova.”
A substituição de medicamentos não é tão simples pela falta de opções e pelos valores.
“A Neostigmina, utilizado no centro cirúrgico, tem apenas um medicamento que substitui e custa R$ 370,00 o frasco. São poucos que tem substituição no mercado. A situação é complicada.”
Soro é essencial
O anestesista Rodrigo da Costa ressaltou que o soro é essencial para qualquer intervenção. Ele chegou ao município em outubro de 2020 e já fez mais de 2,5 mil procedimentos.
“Hoje viemos alertar a população devido a escassez de um insumo extremamente básico. Eu, como anestesista, sempre falo que uma boa anestesia começa com uma boa veia, que, recebe o soro. O que seria o soro? É a água com eletrólitos, vários tipos de açucares e, através dele, vai a medicação para o paciente. Isso dá um bom resultado na cirurgia. A escassez do básico preocupa muita gente porque esses itens estão no pronto-socorro também. Temos, na região, um alto índice de traumas e, enquanto o sangue não chega, precisa do soro, por exemplo, e isso é algo que nos preocupa. Temos que alertar a população que vai nos ajudar a conseguir reestabelecer todo esse processo.”
O soro caseiro não pode ser utilizado dentro de hospitais.
“Ele, sem dúvida, mudou o parâmetro de saúde nacional. Perdíamos muitas crianças por desidratação, que é uma condição grave. Quando ele pode ser cuidado em domicílio, recebe o soro via oral, feito em casa. No hospital, os pacientes são mais graves e a oferta de soro via oral não é suficiente, porque, muitas vezes, o paciente, além da desidratação, está com náusea, vômito e com sonolência pelo quadro. Então, precisamos de uma via de acesso para repor os eletrólitos através da veia. Qualquer coisa que fazemos endovenosa tem que ser estéril. Não pode ser a água da nossa casa com sal e açúcar e infundir endovenoso no paciente e aí a necessidade do soro que é produzido nas farmacêuticas. Ele é usado para um paciente que está precisando de ajuda na enfermaria ou numa cirurgia. É um insumo básico para começarmos o cuidado em saúde do paciente.”
Créditos: ALEXANDRE BAGGIO - Jornal de Beltrão