O secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou que novos ataques de artilharia na usina nuclear de Zaporizhzhia, na Ucrânia, podem "levar a um desastre" na maior usina nuclear da Europa.
A usina foi tomada pela Rússia no início de março e na semana passada houve novos relatos de investidas militares contra o local. Rússia e Ucrânia se acusam mutuamente pelos ataques.
Os ucranianos afirmam que a Rússia transformou o local em uma base militar, lançando ataques de lá, por ser um local onde as forças ucranianas não podem retaliar.
Na quarta-feira (10/08), ministros das Relações Exteriores dos países do G7, grupo das sete nações mais industrializadas do mundo, disseram que a Rússia deve devolver imediatamente o controle da usina para Kiev.
Os EUA, por sua vez, pediram a criação de uma zona desmilitarizada em torno da unidade nuclear. "Lutar perto de uma usina nuclear é perigoso e irresponsável", disse um porta-voz do Departamento de Estado americano.
Moscou nega autoria dos lançamentos
Em um comunicado na quinta-feira (11/08), a agência nuclear da Ucrânia, a Enerhoatom, disse que "invasores russos novamente bombardearam a usina de Zaporizhzhia e territórios próximos à instalação nuclear".
A agência afirma que um setor administrativo perto da área de soldagem foi atingido e vários sensores de radiação foram danificados. Houve um pequeno incêndio em uma área de vegetação próxima, mas não houve feridos. Segundo o órgão, o quartel de bombeiros localizado perto da usina também foi atingido, inviabilizando uma troca de turno das equipes de combate a incêndios.
Zaporizhzhia: Uma cronologia da crise Março de 2022: Pouco tempo depois da invasão da Ucrânia, tropas russas tomaram o controle da usina e disseram à administração do local que o complexo agora pertencia à estatal de energia nuclear russa Rosatom. Os funcionários ucranianos da usina continuaram a trabalhar sob controle russo;
Julho: Relatos de que forças russas estava operando lançadores de foguetes a partir do complexo, tornando-o uma base militar;
3 de agosto: A Agência Internacional de Energia Atômica disse que a situação estava "completamente fora de controle" na usina e que o local precisava de uma inspeção e de reparos;
5 de agosto: A Enerhoatom, agência nuclear ucraniana, disse que operadores da usina desconectaram um reator da rede elétrica após dois lançamentos de foguetes serem feitos pela Rússia a partir do complexo;
8 de agosto: A Ucrânia disse que novos ataques russos danificaram três sensores de radiação e deixaram um trabalhador ferido. Autoridades russas locais disseram que foi a Ucrânia que atacou o local com mísseis;
10 de agosto: Ministros das Relações Exteriores dos países do G7 disseram que a Rússia deveria devolver o controle da usina imediatamente para os ucranianos;
11 de agosto: Houve mais relatos de explosões no local, com a Ucrânia e a Rússia se acusando mutuamente pelo estrago.
Segundo a agência Enerhoatom, a situação está sob controle no momento. As autoridades russas, no entanto, emitiram uma declaração semelhante acusando a Ucrânia pelo bombardeio. Eles disseram que as forças ucranianas estavam usando lançadores múltiplos de foguetes (MRL, na sigla em inglês) e artilharia pesada.
Não foi possível confirmar de forma independente as afirmações de nenhum dos lados.
Acordo necessário Para o secretário-geral da ONU, António Guterres, é urgente que se faça um acordo sobre desmilitarização de um perímetro seguro ao redor da usina para garantir a segurança. O pronunciamento de Guterres foi feito antes de uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU sobre o assunto, na cidade de Nova York, nos EUA.
Em Kiev, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou que "a Rússia pode provocar o pior acidente nuclear do mundo... maior que Chernobyl". O desastre na usina nuclear de Chernobyl, construída pelos soviéticos ao norte de Kiev, é até hoje considerado o maior acidente nuclear do mundo. Zelensky disse que o cenário mais extremo na usina seria equivalente ao uso de armas nucleares pela Rússia.
A usina de Zaporizhzhia fica na cidade de Enerhodar, no sudeste da Ucrânia, ao longo da margem esquerda do rio Dnipro. A instalação consiste em seis reatores de água pressurizada e armazena resíduos radioativos. Até agora, as autoridades de vigilância nuclear da ONU não conseguiram inspecionar a usina.
Créditos: UOL Notícias