Colher mais de 90 sacas por hectare, em uma área reservada para concurso, pode parecer uma tarefa alcançável, não é mesmo? Mas será que é tão fácil assim, se a proposta for fazer isso reduzindo custos e, em toda a fazenda? Pois foi exatamente isso que o agricultor Laércio Dalla Vecchia, de Mangueirinha, no Sudoeste do Estado, conseguiu, tornando-se campeão Nacional do Desafio Cesb de Máxima Produtividade de Soja da safra 2019/2020.
Ao todo, ele colheu 118,8 sacas de soja por hectare, em uma área de sequeiro, acreditem ou não. Mas, para quem o conhece, não há espanto nesse resultado. Até porque ele faz questão de dividir todo o conhecimento adquirido com os muitos seguidores que possui no Facebook e nos grupos técnicos de WhatsApp, que estão lotados.
O Soja Brasil participa de um desses grupos e, de fato, o que se vê ali são debates diários, com muitas informações técnicas, regadas a muitas perguntas e considerações de todos os participantes, entre eles produtores, engenheiros agrônomos e até doutores em Agronomia.
O próprio Laércio faz questão de ressaltar que não concluiu uma faculdade na área que ama. “Sou apenas agricultor”, completa. Mas isso não faz a menor diferença quando o assunto é agricultura. Para ele, os grupos não têm caráter de autopromoção, mas servem para debater as muitas possibilidades que os manejos diferentes ocorridos em outras fazendas possam agregar em sua produção.
“Não sou formado, sou agricultor. E todo o conhecimento que possuo hoje é empírico. Tenho pelo menos três grandes grupos técnicos de debate de agricultura. É muita informação, muita troca de experiências e conhecimentos. O que funciona para um pode não dar certo com o outro, mas testamos para aprender e entender o que é melhor para nossa área”, destaca.
Laércio acompanhado da família em sua propriedade no interior de Mangueirinha. Foto de divulgação
Desafio Cesb
Há cinco anos, o agricultor já participa do Desafio de Máxima Produtividade do Cesb e estava bastante radiante antes mesmo de saber que havia ganhado, pois conseguir colher mais de 90 sacas por hectare na média era um sonho antigo.
“Claro que é o sonho de qualquer produtor colher bem, é uma premissa básica, está sempre nos pensamentos de qualquer um. E, desde sempre, eu tinha como referência as produtividades apresentadas no Cesb. Sempre falava pra mim mesmo, ‘Nossa, se eles conseguem passar dos 100 sacos por hectare, por que eu não consigo. O que preciso para superar essa marca?’ Me fiz essa pergunta muitas vezes”, comenta Laércio.
As primeiras tentativas de produzir mais sacas por hectare não deram muito certo. E Laércio sabe bem onde errou. Na verdade, o erro dele ainda é a falha de muitos agricultores no país.
“Sempre tentei mudar algo no manejo para conseguir esse algo a mais. Em um determinado momento, eu coloquei na cabeça que, para colher mais, eu deveria gastar mais. Cheguei a separar talhões pequenos e neles mantinha um manejo muito diferente do resto da área. Era um manejo muito mais caro, algo que seria inviável fazer em toda a área. Mas queria tentar chegar aos números do Cesb”, relembra.
Laércio foi bastante honesto em relembrar que os resultados não vieram após gastar mais. Isso, aliás, é algo muito ressaltado pelo Cesb. “O Cesb sempre destacou que a rentabilidade é um dos pontos mais importantes para o agricultor. Tanto que a média dos participantes é de um retorno de R$ 2,50 para cada real investido”, diz o diretor de marketing do Cesb, Nilson Caldas.
Após se perguntar diversas vezes o que estava faltando, Laércio relembrou da “agricultura raiz”, herdada de seus avós, vindos da Itália para tentar a vida no Brasil.
“Foi aí que me debrucei em todo o processo e percebi que estava faltando o básico. Eu me preocupei com detalhes e produtos, mas não me atentei ao básico na agricultura. Ou seja, não estava dando atenção às premissas do plantio direto: menor revolvimento possível do solo, maior cobertura de plantas, com pelo menos 8 toneladas de palhada sobre o solo por hectare, rotação correta de culturas, cuidado com a nutrição do solo. Todas essas coisas estavam de lado”, ressalta.
Pois foi isso que ele fez, mudou tudo, apostou no básico da agricultura e o resultado foi o de vencedor nacional do desafio Cesb. “Hoje, toda a área que planto usa o mesmo manejo, como se toda ela fosse para participar do Cesb. Com um monitoramento intensivo de pragas e doenças, fazendo aplicações no momento certo e na quantidade necessária. E o melhor, com custos mais baixos”, ressalta Laércio.
Ao todo a fazenda possui 190 hectares de lavouras e o Cesb poderia pegar qualquer talhão que o resultado seria parecido. “O talhão vencedor do Cesb não teve nenhuma aplicação de inseticida. Isso é motivo de orgulho pra mim, pois não só economizei dinheiro, como obtive um resultado incrível, isso só com monitoramento”, comemora ele.
Sabe aquele sonho de superar os 100 sacos em uma pequena área? Pois é, ele realizou e gastando menos. Mas se você veio até esta parte da reportagem e ainda não sabe qual o segredo dele e as técnicas usadas para colher tudo isso, você não entendeu nada.
“Todo o ano é uma história diferente, com mais ou menos pressão de doenças, clima adverso etc. Não existe uma receita de bolo na agricultura. Mas uma coisa o produtor pode fazer para se dar bem. Esteja presente na lavoura, monitore, faça uma agricultura adequada. Afinal os agroquímicos não aumentam a produção, eles servem para manter a produção estável. Se quer ampliar sua produção, invista no solo, na rotação de culturas e no monitoramento”, destaca.
O resultado obtido por Laércio, além de seu empenho, também tem a participação do engenheiro agrônomo da Emater, Luiz Pasqualli, do escritório de Chopinzinho.
Créditos: Fonte: Canal Rural - RBJ - Evandro Artuzzi - Foto: Divulgação